sexta-feira, 22 de março de 2024

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Governo quer "embarcar" postos de abastecimento de GNL

Governo quer "embarcar" postos de abastecimento de GNL

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Governo quer "embarcar" postos de abastecimento de GNL em concessões rodoviárias

Em vez de ampliar a rede de abastecimento para caminhões movidos a gás natural veicular (GNV), mais disseminada, ministro dos Transportes defende criar postos para o gás liquefeito (GNL), que exige estrutura própria.
O governo federal está colocando o pé no acelerador para incentivar a descarbonização no setor de transporte de veículos pesados. Nesta semana, o ministro Renan Filho, dos Transportes, anunciou planos para instalar uma rede de postos de abastecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) para caminhões nas rodovias federais sob concessão.

Caso o governo consiga engatar essa marcha, a medida complementaria iniciativas recentes para adoção de diesel verde (HVO), biometano e o aumento da mistura de biodiesel ao diesel.

“O governo quer incentivar as empresas de novas concessões rodoviárias federais a instalarem esses equipamentos de abastecimento de GNL, usando recursos das tarifas de pedágio que estão reservadas para utilização em transição energética e novas tecnologias”, afirmou o ministro na última terça-feira, 19 de março, em Brasília, durante o seminário “Descarbonização: Rumo à Mobilidade de Baixo Carbono no Brasil”, realizado pelo Grupo Esfera e o MBCB (Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil).

Diferentemente do Gás Natural Veicular (GNV), amplamente difundido no Brasil, com uma frota de 2,5 milhões de veículos, a grande maioria leves, e uma rede de abastecimento estruturada, o uso do GNL como combustível para caminhões ainda é incipiente no País – com apenas algumas centenas de unidades em circulação, em comparação aos cerca de mil caminhões movidos a GNV.

O GNL utiliza da molécula do gás natural, que abastece veículos (GNV), residências e empresas por meio de dutos. A diferença para o GNV é o processo para armazenagem da molécula. Enquanto o GNV comprime o gás, o GNL liquefaz num processo de criogenese, conservando-o em temperatura de 160 graus negativos.

Esse método faz com que a autonomia do caminhão, que utiliza cilindros para armazenar o gás liquefeito, possa ser de até 1,2 mil quilômetros com um tanque de GNL, contra 400 quilômetros em média nos tanques de GNV.

O combustível no formato liquefeito, portanto, é sustentável para substituir o diesel, que está em praticamente toda a frota rodoviária de carga. O GNL emite 28% menos CO2 e 90% menos NOx e materiais particulados que o diesel.

Essa vantagem já tem sido explorada por outros países. A China tem uma frota de mais de 800 mil caminhões movidos a GNL, e na Europa são quase 500 mil.

Recentemente, o Ministério dos Transportes obteve aprovação de uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) para aumentar o tamanho máximo dos caminhões, para agregar o tanque de GNL.

“Não adianta você garantir ao caminhão o tanque, mas não ter posto de combustível nos lugares, que é o que estamos estimulando na nova rede de concessões”, disse Renan Filho, acrescentando que o objetivo é criar os chamados “corredores azuis” nas rodovias.

O problema é que a infraestrutura de abastecimento para GNL é praticamente inexistente em estradas. E o custo de implementação do sistema de abastecimento dos gás liquefeito é seis vezes maior do que o de veículos a diesel.

Como exige uma estrutura própria para manter o líquido a baixíssimas temperaturas, o sistema de abastecimento do GNL não permite aproveitar os equipamentos do GNV, disponíveis em muitos postos.

Outros usos

Para a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), porém, a iniciativa do governo é importante por gerar uma discussão para a criação de uma infraestrutura para o GNL.

“O ideal seria aproveitar essa iniciativa do governo de investir na rede de abastecimento para caminhões movidos a GNL e criar projetos estruturantes para outros mercados que possam usar o gás liquefeito, como a indústria”, afirma Marcelo Mendonça, diretor técnico-comercial da Abegás.

Ele observa que a entidade vem trabalhando para aumentar e consolidar a rede de postos de abastecimento para veículos leves e pesados movidos a GNV, muito mais disseminada – são, no total, 1.700 postos em todo o País, sendo 45 nas principais rodovias. A Abegás planeja instalar mais 47 postos em rodovias até 2024.

Para Mendonça, a ideia de o governo anunciar investimentos para começar a instalar postos para GNL, em vez de ampliar os investimentos na rede de GNV, não é equivocada. “São tecnologias complementares, dependendo da utilização, o usuário poderá escolher uma dessas opções, GNL ou GNV, e utilizar a infraestrutura disponível”, diz.

A entidade também aposta na aprovação do Projeto de Lei 4.86/2023, em tramitação na Câmara dos Deputados, para estimular o uso do gás natural no setor de transportes.

O PL propõe criar o Reideetec (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis de Matriz Limpa do Gás Natural e Biometano), com a adoção de créditos incentivados de PIS/Cofins, com foco no gás natural e biometano utilizado para o abastecimento dos veículos pesados.

“Além de beneficiar o uso do GNL e do GNV, o PL também traz estímulos para o biometano, outro combustível sustentável a ser aproveitado pelo setor de mobilidade”, diz Mendonça.

Os investimentos em GNL, porém, começam a aparecer. Em fevereiro, a Eneva, Scania e Virtu GNL firmaram contrato de aquisição de 180 caminhões movidos a GNL, primeiro passo para criar o maior corredor logístico rodoviário com foco na redução de emissões de CO₂, abrangendo principalmente a Região Nordeste.

A parceria prevê que a Eneva (operadora de gás natural) forneça o GNL, a Scania atue como provedora da solução de transporte, e a Virtu GNL – especializada em transporte de gás natural liquefeito – seja a operadora de serviços logísticos envolvendo a operação dos caminhões e postos.

Por: José Eduardo Barella


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